Benilda Amorim.
Foto: Arquivo pessoal.
INORMALIDADES
Como viver e o que dizer neste tempo indizível?
Palavras desaparecem, difícil poetizar. Pensamentos emboloram e se embaralham. Prantos. Poucas ou nenhuma alegria.
Quarentena sobre quarentena, isolamento/distanciamento social. Nenhum beijo, nenhum abraço. Tudo hipoteticamente vivido, nenhuma certeza. As batalhas seguem numa guerra diária de números estatísticos. Féretros, sepultamentos sem velórios. Valas. Dor e horror misturam-se.
Uma realidade assustadora, onde nos deparamos com atitudes políticas inimagináveis (ou não?) O que na verdade há de surpreendente? TODOS já sabiam, mas há os de olhos vendados (pior, que eternamente viverão de olhos vendados e em berço esplêndido!). E as máscaras usadas obrigatória e sanitariamente, em alguns, caem literalmente em outros, todos os dias.
Muitos ainda não se dão conta do perigo na esquina que falava o poeta e que NADA SERÁ COMO ANTES, como cantou Elis. Não mais padrões da moda: marcas, grifes, para que mesmo? Roupas finas e frias recolhidas em armários, armazenadas e inúteis, sapatos sem caminhar, maquiagem e plásticas faciais desnecessárias sob máscaras!
Professores só agora valorizados por pais impacientes com seus filhos em casa, profissionais da saúde, da segurança, garis e outros profissionais de serviços essenciais, enfim equiparados na sua importância, mas ainda todos com salários inferiores à esta real importância. Pessoas vulneráveis e desempregadas expostas na sua miserabilidade, em filas suicidas e intermináveis, em busca de auxílios emergenciais. Uma realidade chocante!
Mas há de haver brilho nos olhos. Artistas já revelados, revelam-se. Uma réstia de esperança que emerge do viver a cada dia entre textos de Drummond, Quintana e Coralina; ouvir e ouvir muitas vezes, Lenine dizer na sua PACIÊNCIA que A VIDA É TÃO RARA; Elis lembrar que QUALQUER DIA A GENTE SE VER, mas que NADA SERÁ COMO ANTES; e VANDER LEE nos cutuca que é preciso RELER A ALMA e NOSSOS VALORES e sobretudo, CUIDAR BEM DE NÓS. Sabedoria nos chega nas mensagens de Gandhi, Kundera, Chaplin, Madre Teresa de Calcutá. Almas sedentas de vida e do amanhã, vivem em constante oração e a fé se sobrepõe até sobre os que até então eram incrédulos do poder de Cristo.
Milhares de avós de primeira viagem e uma especialmente, avidamente querendo vida e esperando Francisco para quando Setembro vier... E que esse serzinho chegue em paz e saudável, trazendo novas alegrias e esperança a esse mundo atual e inevitavelmente incerto...
E de novidade, apenas e tão somente este vírus invisível, mas infinitamente letal arrastando vidas de um planeta inteiro, enquanto vislumbra-se uma vacina e a consciência dos seres humanos que têm que ser mais humanos do que nunca, para que possam sobreviverem. Mas vamos ter esperança e tentemos todos viver na fé e na solidariedade. E apesar das inormalidades, a VIDA PRECISA SER VIVIDA!
Benilda Amorim
Escritora e Poeta.
Bahia, 24.05.2020
04:02min
Maravilhoso,relato desses noventa dias ou mais, indizivel? Totalmente dizivel...
ResponderExcluirQue reflexão!!!
ResponderExcluirDeveria ter uma visibilidade global, pois você,magistralmente, interpretou,toda a realidade do mundo neste momento tão incerto!